quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Experiência com o voluntariado no Mutirão de Bioconstrução

Olá! Tudo bem com você? Sei que você deve estar curiosx para saber o que estou fazendo agora que já voltei lá do Mutirão da Bioconstrução. O livro (e-book) sobre a experiência, com os relatos diários da viagem e dos aprendizados já está em processo de elaboração, pretendo finalizá-lo e entregar até o final de abril deste ano (2016).


Como você já sabe, minha filha não foi junto comigo neste primeiro Mutirão, apesar de esse ter sido meu plano inicial. Foi bom que eu tenha ido antes para conhecer e sentir o ambiente, observar se ela pode se adaptar e se pode realmente ser uma experiência com os valores que eu quero transmitir a ela. Agora posso afirmar com certeza de que essa é uma experiência que trará um crescimento enorme para nós duas, tanto individualmente como na nossa relação!


Curtindo uma fogueira e um violão

Primeiras impressões, dúvidas e receios


Eu não conhecia nenhuma das pessoas que encontraria por lá. Tudo a que tive acesso foi através do e-mail que recebi com as regras (como resposta ao e-mail que enviei minha inscrição) e as pessoas que eu podia supor que iriam através dos comentários que faziam nas postagens da página da Estação Marcos Ninguém de Permacultura. Tinha dúvidas com relação à rigidez das regras que recebi, se elas eram apenas formalidade ou se seriam realmente cobradas, especificamente no que tangia ao consumo de álcool e outras drogas, que era proibido expressamente, assim como o consumo de cigarros industrializados (o tabaco era permitido contanto que fosse natural e maconha é uma droga ilícita, portanto proibida). Receava que, talvez, as regras servissem para proteger a empresa de investigações policiais, mas que na prática a realidade pudesse ser outra.

Ainda bem! No primeiro dia, ao realizar a inscrição pessoalmente com a secretária Cris, as regras foram reforçadas e eu perguntei abertamente sobre a questão na prática, para não haver nenhum mal entendido. Afinal, eu quero um ambiente seguro para conviver com a minha filha. Logo mais, à noite, o próprio Marcos Ninguém falou de novo todas as regras e deixou muito claro que as pessoas que não estivessem de acordo com elas, principalmente com a questão do álcool, maconha, ou qualquer outra substância ilícita, poderiam deixar o Mutirão. Ele explicou o projeto de Design Social que a Estação vem desenvolvendo junto à comunidade rural da Vila Dom José e do quanto eles prezam a própria reputação e são sérios com os serviços a que se propõem a realizar.

Pedindo carona no ponto de ônibus

Acomodações, trabalho em equipe e cronograma da semana


Levei barraca e colchão inflável, mas quem fez a inscrição antes e solicitou alojamento podiam ficar em quartos coletivos, divididos em feminino e masculino. À medida que os voluntários chegavam e iam tendo problemas com suas barracas ou mesmo não tinham se preparado para acampar, algumas salas de aula (a Estação está funcionando em uma escola que fechou por falta de alunos, depois do advento da barragem que construíram no Rio Uruguai) iam acomodando-os de maneira mista. Tínhamos 3 banheiros: um unissex (com um bom chuveiro, uma privada e pia), um feminino e outro masculino que eram coletivos.

Todos os voluntários eram distribuídos em quatro equipes assim que faziam a inscrição na secretaria, eram elas: LOBO, ÁGUIA, CAVALO e JAGUAR. A cada dia uma das equipes ficava responsável por um serviço a ser realizado no dia: Limpeza, Cozinha, Harmonia e Estação. De segunda à sexta tínhamos a seguinte rotina: as 7h café-da-manhã, 8h obra (bioconstrução), 12:30h almoço, 14h serviço em equipe do dia, 16h obra, 18:30 banho de rio, 20h jantar. No sábado não íamos à obra na parte da tarde, e no domingo tínhamos o dia livre (com exceção do serviço em equipe).



Fogueira e violão S2


Se não é divertido, não é permacultura!


Momentos de descontração aconteciam o tempo inteiro! Tinha sempre um clima de diversão apesar de todo o trabalho pesado que realizávamos. Uma música tocava, alguém cantava, a riqueza cultural de tantas pessoas que vieram de tantos locais e de uma variedade de áreas de estudo era latente, quase materializava-se. O humor era balanceado, nem todos acordavam sorrindo ou fazendo piadas o tempo inteiro, mas que era difícil alguém ficar de cara amarrada por muito tempo, ah era mesmo! 

Os lugares mais divertidos, normalmente eram aqueles que mais exigiam do nosso físico, o trabalho só era pesado para o corpo, para a mente era leve! Eu gostei muito da marreta de borracha e do maçarico. Enquanto marretava as paredes de superadobe em busca de nivelá-las, mentalizava e verbalizava que estava moldando e construindo minha nova realidade. Tão gostoso, sentir meu corpo trabalhando com todos os músculos para construir a realidade dos sonhos! E a sensação extasiante que tive ao usar o maçarico e ver aquela textura da terra cor de chocolate compactada e cheia das marcas da marreta? Bioconstrução é amor <3


Eu escrevo aqui por mim, mas por você também! Conta pra mim o que você está achando?



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2 comentários:

  1. Oi, Jéssica
    Estou acompanhando sua aventura e proposta, e gosto muito da maioria coisas que você escreve.
    Claro que fico pensando no meu próprio momento de mudança e as ideias vao longe...
    Uma curiosidade: vc mencionou bastante a questão do trabalho pesado. Como uma pessoa totalmente sedentária passaria por essa experiência?

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    1. Oi Daisy!
      Gratidão pelo comentário!
      Bem, eu era essa pessoa totalmente sedentária (e com problemas nos dois joelhos)! Eu não recomendo que as pessoas sedentárias com problemas de saúde se aventurem por aí, principalmente pegando pesado! Mas no meu caso, eu tinha muita vontade de trabalhar duro, de sentir o meu corpo totalmente entregue às atividades com picaretas, enxadas, pás, baldes de terra...
      Era uma coisa minha, sabe? Eu não consigo sentir esse prazer dentro de uma academia ou em uma aula de pilates, esse prazer de sentir o meu corpo em atividade, suando.
      Mas também não tinha nenhuma doidera, me alongava antes e depois e estava sempre trocando de atividade quando sentia alguma dor ou desconforto. Fazíamos pausas para meditar e normalmente eu só ia para a obra pela manhã. Eu estava pesando 96kg quando eu fui pra lá, e já tinha mais de mês que não subia ou descia escadas além de ficar muito tempo dentro de casa. Muito sedentária, fazia fisioterapia mas já estava um mês sem fazer.

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